A Res Publica é uma exposição permanente
do Museu que trata do período republicano brasileiro, desde 1889 até os dias de
hoje. Seus idealizadores dividiram-na em seis períodos, considerando a
cronologia política tradicional: a República Proclamada (1889-1898), a
República Oligárquica (1898-1930), a República Nacional-Estatista (1930-1945),
a República Liberal-Democrática (1946-1964), a República da Ditadura
(1964-1985) e a República Cidadã (1986...)
Na apresentação da exposição, a
curadora Maria Helena Versiani preocupa-se em “descortinar as várias paisagens
republicanas do Brasil” a fim de uma “melhor compreensão dos nossos desafios
passados, presentes e futuros”. Reconhece que ao longo de pouco mais de um
século, a República, a “coisa pública brasileira” serviu a diferentes
interesses e práticas, “tanto democráticas quanto autoritárias”.
Em toda a exposição predominam, entre
os objetos, quadros, fotografias e cartazes, chegando, em algumas salas, a representar
quase a totalidade dos objetos expostos. A exposição concentra-se nos aspectos
políticos da(s) República(s) brasileira(s) e por conseguinte dá grande destaque
a cidade do Rio de Janeiro, a capital da República até 1960. Outra figura de
grande relevância é o presidente Getúlio Vargas, que além de possuir o seu
quarto musealizado, tem enorme relevância na exposição da sala da República
Nacional-Estatista.
Em termos historiográficos a
exposição não segue apenas uma corrente de pensamento, tramitando entre
diferentes perspectivas, desde as mais tradicionais até as que atualmente se
discutem na academia. Entretanto, em alguns pontos, entra em contradição por
justamente apresentar mais de uma perspectiva historiográfica na mesma sala. Quanto
aos textos explicativos espalhados pelos painéis dos ambientes da exposição,
pode-se afirmar que priorizam o estilo factual de se escrever história. Um
visitante mais atento sem dúvida sentiria falta de uma análise crítica que
problematizasse e aprofundasse alguns temas apresentados ao longo da exposição,
em detrimento de fragmentos de textos meramente informativos.
Para cada período, nomeado pela
curadoria de "conjuntura", apresentaremos, a seguir, uma breve
análise da exposição, acompanhada de alguns comentários e sugestões de leitura
sobre os temas, ao final.
República
Proclamada (1889-1898)
Nesta sala estão expostos
alguns quadros de diferentes presidentes brasileiros, a bandeira dos Estados
Unidos do Brasil, algumas fotografias e quadros da época. Destaque para a
reprodução, na parede, de um jornal, de 03 de dezembro de 1870, intitulado “A
República”. Nota-se que não existe nenhuma informação sobre o jornal, o porque de estar exposto, sobretudo considerando-se que não é um objeto da época sobre a
qual trata a exposição. Em geral, a exposição “República Proclamada” trata mais
do período que precede o 15 de novembro de 1989 e suas motivações do que,
efetivamente do período comumente conhecido como República da Espada,
1889-1898.
Bandeira dos Estados Unidos do Brasil exposta no Museu |
República
Oligárquica (1898-1930)
Destaca-se a imensa fotografia de
Canudos, as peças de gabinete do presidente Prudente de Moraes e uma cabine
sobre a incorporação do Acre, em 1903. São ainda, temas da exposição nessa
sala, a Política dos Governadores, as reformas urbanas na cidade do Rio de
Janeiro, na primeira década do século XX e as reações populares a esse
processo; o Contestado, a Revolta da Chibata, os movimentos de imigração, a
exposição de 1908, em comemoração aos 100 anos da chegada da família real portuguesa
ao Brasil realizada na cidade do Rio; a criação do Partido Comunista Brasileiro
em 1922; e a Coluna Prestes. Esta sala, entre todas as que compõe a exposição
da Res Publica é a que possui maior variedade de temas e maior riqueza de
materiais expostos.
República
Nacional-Estatista (1930-1945)
Sala da Republica Nacional Estatista |
Na exposição da República Nacional-Estatista, predominam fotografias, que correspondem a uns 60% de todos os objetos escolhidos. Os curadores optaram por apresentar o período seguindo cronologicamente a ordem de acontecimento dos eventos mais importantes, desde a Revolução de 30, até a deposição do governo, em 1945 após a II Guerra Mundial, passando pelo Movimento Constitucionalista de 1932, o Levante Comunista de 1935, o golpe de 1937, e a promulgação da CLT em 1943. A exposição é centrada na figura do presidente/ditador, tanto que, além de quadros com sua imagem, possui uma estante onde para expor diversos prêmios e homenagens que Vargas recebeu ao longo do período. A valorização da imagem do governante apresenta certa contradição com o nome da sala, já que ao invés de explorar as características do nacionalismo do período e do modelo de Estado e gestão pública praticados, concentra-se tão somente em um dos seus atores, o presidente.
República Liberal-Democrática (1946-1964)
Essa sala trata do período que
compreende as presidências de Dutra, Vargas, Juscelino, Janio Quadros e Jango.
Entre os temas apresentados nessa sala, destaca-se o Movimento Queremista em
defesa da permanência de Getúlio Vargas na presidência em 1945; a cassação dos
direitos políticos do PCB em 1947, a campanha do “Petróleo é Nosso”, o suicídio
de Vargas em 1954, e a criação de Brasília. Destaque também para a sonorização.
Essa é a única sala de toda a exposição que possui música ambiente: “Peixe
Vivo”, de Roberto Carlos. Interessante notar, que o último período dessa conjuntura,
que se estende de 1961 a 1964 sob o governo de João Goulart e que precedeu o
golpe civil-militar, não mereceu tanto destaque por parte dos curadores.
República da
Ditadura (1964-1985)
Exposição República da Ditadura |
República
Cidadã (1985...)
Esta sala está recheada de fotos dos
candidatos a presidência na primeira eleição direta após o período ditatorial,
em 1989. Trata ainda dos anos finais da ditadura; apresenta vídeos e
documentários; a evolução das moedas brasileiras, desde os réis até o real,
através da exposição de papeis-moeda. Percebe-se a intenção da curadoria em
destacar no período, seus aspectos democráticos, sobretudo por apresentar um
vídeo permanente sobre a Participação Popular na política. Esta sala tem suas
paredes brancas, contrastando com a proposta da sala anterior, cujas cores
tendem ao preto e remetem a ideia de um período de trevas na história
brasileira. Denota-se uma leve tendência à critica ao período da presidência de
Fernando Henrique Cardoso, se comparado ao governo subsequente do Partido dos
trabalhadores (Lula e Dilma) mesmo que aponte alguns pontos negativos, como o
escândalo do “mensalão” em 2006. Destaca-se ainda que esta é a única sala que
possui refrigeração.
Bibliografia sugerida:
BANDEIRA, Luiz Alberto
Moniz. O governo João Goulart. As lutas sociais no Brasil – 1961-1964. Edição
revista e ampliada. São Paulo: Editora Unesp, 2010.
D’ARAÚJO, Maria Celina; SOARES, Glaucio A.D. e CASTRO, Celso. (orgs.) Visões do Golpe. A memória militar de 1964. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1994.
DREIFUSS, René Armand. 1964: a conquista do Estado. Ação, política, poder e golpe de classe. 4ª ed. Petrópolis: Vozes, 1986.
FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucilia (org.). O Brasil Republicano Vol. 2 - o Tempo do Nacional-estatismo Rio de Janeiro. Civilização Brasileira, 2003.
D’ARAÚJO, Maria Celina; SOARES, Glaucio A.D. e CASTRO, Celso. (orgs.) Visões do Golpe. A memória militar de 1964. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1994.
DREIFUSS, René Armand. 1964: a conquista do Estado. Ação, política, poder e golpe de classe. 4ª ed. Petrópolis: Vozes, 1986.
FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucilia (org.). O Brasil Republicano Vol. 2 - o Tempo do Nacional-estatismo Rio de Janeiro. Civilização Brasileira, 2003.
MERLINO, Tatiana. OJEDA,
Igor. (orgs.) Direito à memória e à verdade: luta, substantivo feminino. São
Paulo: Editora Caros Amigos, 2010.
MORAES, Dênis. A esquerda e o golpe de 64. São Paulo: Expressão Popular, 2011.
REIS. Daniel Aarão. Uma cultura política: o nacional-estatismo. O Globo. 11 de abril de 2010.
MORAES, Dênis. A esquerda e o golpe de 64. São Paulo: Expressão Popular, 2011.
REIS. Daniel Aarão. Uma cultura política: o nacional-estatismo. O Globo. 11 de abril de 2010.
TOLEDO, Caio Navarro de. O
governo Goulart e o golpe de 64. São Paulo: Brasiliense, 1982.
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